Benedita Pinto Gonçalves

Situemo-nos. Segunda metade do século vinte, ressacando da segunda guerra mundial e curando as feridas profundas que o holocausto deixou à vista de todos. Numa América nortenha, no auge da globalização, das convulsões políticas, da desconstrução das ideologias, da evolução tecnológica. Dá-se o boom da revolução digital, da era da experimentação; assiste-se ao crescimento dos media e ao murro na mesa da Internet como paradigma da sociedade de informação.

E é então que surge um centro na necessidade de redefinir o papel do designer no panorama contemporâneo. Quais as definições contemporâneas do design? Onde se encontra a responsabilidade do designer e onde se encaixa o seu trabalho nesta era de mudança e transversalidade das artes?

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Estamos agora na louca, “de-todos-e-de-ninguém” Nova-Iorque, onde se passeia de pés bem assentes no chão e cabeça nas vanguardas da arte, o designer Milton Glaser. Figura central do design internacional, Glaser vem determinadamente deixar a sua impressão digital no pós-modernismo e fá-lo com uma simples sugestão: “to introduce the idea of doubt to graphics - that can be a big contribution”. Ganhamos então anti-corpos face às certezas absolutas, deixamos o preconceito das ideias-como-propriedade-privada e aceitamos que “as ideias devem ser partilhadas. Não são propriedade - podemos tirar grandes benefícios quando experienciadas e usadas por outros.” 

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Desconstrói-se, redefine-se, explora-se, experimenta-se, tudo ganha uma nova dimensão e a arte atravessa uma era de união entre as suas variadas vertentes. Já não falamos só da pintura ou só do cinema, mas misturam-se interesses e áreas, cruzam-se ideias e nascem então novas visões e questões. 

É no mistério e na dúvida que está a virtude do design. O designer encontra o seu propósito na necessidade de dialogar com o outro e com a sociedade contemporânea, e é aqui que emerge a dúvida que o leva a analisar constantemente as suas certezas, já que “as crenças são geralmente sinal de uma mente fechada” (diz Glaser, no seu manifesto “The Five Most Important Things You’ll Learn About Design”).